Eleitos que foram bons de votos agora precisam mandar bem em alfabetização na idade certa
VA
O Relatório de Resultados do Indicador Criança Alfabetizada divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) em maio, traz um alerta gritante para o Rio Grande do Norte e nossa capital, Natal: estamos na incômoda lanterna do ranking de alfabetização na idade certa. Apenas 37% das crianças potiguares e 34% das crianças natalenses são alfabetizadas no segundo ano do ensino fundamental, número muito distante de capitais e estados com realidades socioeconômicas semelhantes, como Fortaleza e o Ceará.
O contraste entre os números do Ceará e do Rio Grande do Norte reflete a disparidade em resultados educacionais que vem se consolidando ao longo dos anos. Em Fortaleza, 74% das crianças estão alfabetizadas até o segundo ano; no Ceará, o índice alcança 85%, a maior taxa do país. Em contraste, apenas 37% dos estudantes do Rio Grande do Norte conseguem ler e escrever na idade certa, compartilhando a última posição com os estados de Sergipe e Bahia. Cidades que, como Recife, começaram a investir na alfabetização, saltaram de baixas posições para o topo do ranking em pouco tempo, atingindo 62% de alfabetização na idade ideal.
A alfabetização na idade certa tem impactos diretos sobre a qualidade de vida, taxas de emprego e índices de criminalidade, pois permite que o indivíduo se torne um cidadão consciente, participativo e produtivo.
Não sei se essa prática ainda existe em outros municípios, mas, ao assumir a prefeitura de Lucrécia em 1997, percebi algo que precisei mudar de imediato: os professores menos qualificados ficavam com os anos iniciais, enquanto os mais preparados lecionavam nas séries avançadas. Como assim? É nos primeiros anos que os processos pedagógicos são mais desafiadores e essenciais para o futuro das crianças. Não era preciso ser especialista em educação para entender essa lógica.
Os novos prefeitos precisam colocar essa questão na sua agenda de prioridades. Demonstraram competência nas urnas, agora precisam usar essa mesma habilidade para promover uma revolução na alfabetização. Não há justificativas plausíveis para esse cenário desolador em um estado e capital com a realidade idêntica à de vizinhos que se destacam na educação.
O exemplo do Ceará e de cidades como Recife deixa claro que, com vontade política e investimentos em programas pedagógicos eficazes, é possível mudar o curso da educação. O tempo de estagnação precisa dar lugar a uma nova fase de compromisso e ação. Melhorar a alfabetização das crianças potiguares é investir no futuro de todo o estado.